29 de dezembro de 2006

paralelo sob vigilância (turquemenistão)


"Não existem jornais estrangeiros, a televisão por satélite é censurada e a Internet controlada. Os turquemenos vivem sob vigilância total, com câmaras de vídeo espalhadas pelas ruas, e necessitam de autorizações para entrar nas "zonas fechadas especiais" que constituem, segundo o Guardian, 40% do país. Segundo alguns dissidentes citados, sob anonimato, pela imprensa ocidental, grande parte da população vive numa pobreza extrema, e o desemprego e consumo de drogas têm vindo a aumentar.

Mas o mais preocupante para os analistas que acompanham a situação é existir já uma geração de jovens que cresceram no universo irreal criado pelo Turkmenbashi (1*). Jovens que não leram mais nada na vida senão o livro do líder, que foram encorajados a interrogar os pais sobre os ensinamentos do Rukhnama(2*) e a denunciá-los aos professores, se eles não souberem responder, e que desconhecem completamente o mundo fora de um país em que até os meses do ano foram rebaptizados: Janeiro passou a ter o nome do presidente, Abril o da sua mãe Gurbansoltan, Maio o do pai Atamurat e Setembro o do livro sagrado Rukhnama."

texto de Alexandra Prado Coelho, jornal Público, 22-12-2006

(1*) Turkmenbashi: líder de todos os turquemenos, título assumido pelo presidente Niazov, falecido recentemente
(2*)
Rukhnama: livro escrito por Niazov, sob "inspiração divina", que serve de guia e orientação para " afastar as complexidades e angústias do quotidiano" de cinco milhões de turquemenos. É ainda a base de educação do país - as crianças têm de aprender passagens de cor e os adultos sujeitam-se a exames sobre o seu conteúdo para poderem aceder a cargos e empregos.

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